Entrevista com o escritor António José Rodrigues

by - janeiro 08, 2012

Olá queridos leitores! Estou trazendo para vocês entrevista com o escritor António José Rodrigues.Ele escreveu várias obras relacionadas ao Oriente, contribuindo com importantes resultados de estudos árabes e islâmicos realizados pelo mesmo.Tenho certeza que vão adorar essa entrevista que vem recheada de muita inteligência e cultural. Obrigada António,por nos prestar essa magnífica aula de conhecimento. Vamos conferir como ficou a entrevista? 


Jornalismo na Alma- Como surgiu o desejo de lançar um livro?
António Rodrigues-A minha paixão pela escrita tem já décadas, traduzida em pequenos textos redigidos esporadicamente em pequenos fanzines, artigos de faculdade e, aos poucos, em publicações de cariz acadêmico, com maior visibilidade e sentido de escrita. Foi, porém, a oportunidade de, posteriormente, conciliar este entusiasmo pela escrita com o prazer sério da descoberta de outras culturas, que me levou a redigir, em finais dos anos 90, o meu primeiro trabalho escrito intitulado “O Islão no Mundo: Paraísos do Crescente Verde”, de resto, resultado do objecto do meu estudo na vertente de História, Filologia Árabe e Ciências Árabe-Islâmicas. 

Jornalismo na Alma- Porque escolheu escrever sobre o Oriente?
António Rodrigues-Como referi anteriormente, foi uma empatia que não se explica. Sente-se, somente. Existe esta idiossincrasia própria que caracteriza cada pessoa de acordo com a sua natureza, os seus gostos, o seu passado e uma absorção ímpar que se faz do espectro da vida nas suas variadas formas. O meu gosto pelo Oriente surgiu de forma natural, através das leituras, dos cursos, das viagens de peregrinação pessoal, interior e geográfica que ía efectuando e, mais tarde, impelido pelo facto de conquistar prémios literários em diversos países árabes e respectivos convites para aí proferir palestras. Da paixão, que ainda hoje existe, soma-se esse contributo – quase “exigência” particular – do sentido de que devo, posso e pretendo poder continuar a dar a conhecer às pessoas, a partilhar conhecimento com elas, ajudando a quebrar barreiras de intolerância e a desmistificar determinados rótulos pejorativos.  


Jornalismo na Alma- Como surgiu a escolha dos nomes dos livros?
António Rodrigues-De forma natural, em linha com o conteúdo de cada trabalho. Por vezes, a ideia de um título redirecciona-nos na escrita; noutras ocasiões, porém, é o inverso e é a orientação final que nos conduz, com naturalidade, a um título. Por exemplo, o último livro, “Um Certo Oriente” (2009) tem a particularidade de reunir algumas das crônicas que, entre os anos de 2003 e 2008, publiquei semanalmente num jornal português, numa coluna precisamente com esse apodo.

Jornalismo na Alma- Qual livro escrito você considera mais importante?
António Rodrigues-Julgo que, dentro do espectro de informação que partilho, todos eles acabam por se miscigenar nas ideias e na intenção. No entanto, pelas suas premissas, especificidade e resultado conseguido, elegeria “Um Certo Oriente”, pelo manancial de informação compartilhado e, dentro de um outro registo totalmente diferente, o NATO handbook “Public Information in Arabic Countries” que é um manual, um guia de conversação e de aspectos culturais, de tradição e costumes observados em países de expressão árabe-islâmica, oferecendo ao leitor, de forma vertical e sóbria, uma visão ampla sobre um mundo que, desde a sua gênese, soube perpassar e consubstanciar elementos civilizacionais de referência e uma cultura única, característica, específica, de refinada riqueza e nobreza, deixando quase intactas as amostras vitais de um povo com o recanto remoto dos seus segredos milenares, onde a vivacidade pitoresca do passado e o quadro expressivo do presente ainda se cortejam e completam. Apesar de todas as lamentáveis convulsões, o Oriente tem muito encanto e ninguém, creio, dará por mal empregados os dias que lá passar, que dedicar a desvendar-lhe os segredos e a perscrutar-lhe as atracções. Como já alguém dizia antes, o encanto maior do nosso Ocidente é ser onde o Oriente principia...



Jornalismo na Alma- Quanto tempo se dedicou aos estudos árabes e islâmicos antes de escrever seus livros?
António Rodrigues-A elaboração de cada livro é uma osmose entre os estudos, a descoberta e a escrita. O estudo, esse, continua, vai para mais de 15 anos. A descoberta autêntica, é uma constante. A escrita, tem os seus momentos. Instantes de reflexão, de maturidade, de colegimento, busca na fonte, traduções, comparações, dúvidas, etc. Todo um salutar processo de análise e crescimento.


Jornalismo na Alma- Sobre qual tema escreveria um outro livro?

António Rodrigues-Tenho em mente arriscar numa incursão por textos que reflictam as minhas faustas e profícuas experiências “no terreno”. Um gênero de “diário” de viagens. Com todas as impressões, emoções, sentimentos e retalhos de vida vividos, em todo o seu pulsar e genuinidade. Quem sabe para breve...
 

Jornalismo na Alma- Com sente a receptividade das pessoas que leram a obra?
António Rodrigues- Francamente, tenho tido muitos, sinceros e positivos “feedbacks” aos meus trabalhos. Penso, muito modestamente, que o que as pessoas aí sentem e com o qual se identificam, em cada linha, entrelinha e na informação provida, partilhada e sentida, é aquilo mesmo que eu à instantes mencionei: a paixão pelo que se faz, a seriedade no que e como se faz, o equilíbrio de ideias e a clareza dos conteúdos, o procurar saber transmitir a curiosidade do conto, a singeleza da estória, o desvendar de algum misticismo, o satisfazer da curiosidade relativamente a aspectos culturais, o ter consciente a noção de respeito, ecumenismo e tolerância e, por fim, não menos importante, a humildade. O saber ser humilde quando se escreve, tal qual como se está na vida e se olha para a pessoa do lado. Acho que os meus leitores, a quem eu me acostumei a tratar por amigos, acabam por se inspirar, em termos de receptividade, a essa mescla de valores.

 Jornalismo na Alma- Tem planos para 2012 no universo da literatura?
António Rodrigues- Estou a ultimar alguns textos avulso, ainda sem “esqueleto” e sem título... Alimento, regularmente, um blogue. Mais por “carolice” mas que me dá imenso gozo. E, depois, a ideia de escrever notas biográficas – o tal diário de viagens – seduz-me sobremaneira e sinto, muito modestamente, que teria imenso para partilhar. E fazer a minha própria catarse...


 Jornalismo na Alma- Diga um autor preferido no Brasil? Por quê?
António Rodrigues-Destacaria dois nomes, cujas obras me inspiram sempre que as releio e que, salvo as devidas proporções e deferência, são as “âncoras” para qualquer escritor: falo, obviamente, de Paulo Coelho. Sempre. Uma referência de luxo.  E Júlio César de Melo e Sousa (mais conhecido pelo heterônimo de Malba Tahan), pela imaginação e pela forma apurada e deliciosa como “educava” o leitor através das fábulas e das narrativas de recreação matemática. Depois, já noutro plano, mas igualmente inspiradores, Monteiro Lobato, Luis Fernando Veríssimo, Ana Miranda...

Jornalismo na Alma- Diga um autor estrangeiro preferido? Por quê?
António Rodrigues-Ui, a lista é infindável... Não lhes chamaria «autores estrangeiros» mas sim «autores do mundo». De ontem, de hoje e de sempre. Com Paulo Coelho e Malba Tahan, em toda a sua espectacularidade Fernando Pessoa, Camões, Dan Brown, JRR Tolkien, Dostoievski, Tolstoi, Anne Rice, Meg Cabot, Stephenie Meyer, Ali Bey, Muhammad Asad, Haruki Murakami, Naguib Mahfouz, Ezequiel Teodoro...
Em todos eles há misticismo, intensidade, suspense, alegria, vida, paixão, saber. São autores de obras que nos fazem pensar, chorar, rir, reflectir, amadurecer, enxergar os polígonos da vida através de diferentes ângulos e variadas lentes. E é isso que me seduz, os distingue e, paradoxalmente, os une entre si. São nomes que a história legará para sempre e que perpetuarão sempre em nós o gosto pelo conhecimento e pela leitura.
É importante ser-se transversal nas opções de leitura. Não obstante as referências que recolho de cada autor árabe ou ocidental que escreve sobre a cultura árabe, é fundamental não estagnar em conceitos e procurar sempre outros portos de abrigo, demais inspirações e visões do mundo.

Jornalismo na Alma- Qual a dica que você daria para futuros escritores?
António Rodrigues-Acima de tudo, escrever com paixão. E saber sempre do que se escreve. Seriedade. Cada vez mais, com este fenômeno da globalização, o acesso à informação é mais facilitado e instantâneo. O (a) leitor(a) é, a cada minuto, pelos mais variados meios de comunicação, mais e melhor informado, em tempo real, um pouco de todos os assuntos, é sagaz na sua procura, na sua monitorização com elevado sentido crítico e, por essa razão, simultaneamente, mais exigente. Saber do que se escreve, fazê-lo com isenção, e tentar sempre ser diferente, isto é, não incorrer no “lugar-comum” mas, pelo contrário, trazer algo novo, refrescante e estimulante para quem lê, é “paramount”. Fundamental. É o princípio basilar de qualquer desafio deste âmbito e o tônico que pode muito bem fazer a diferença para uma auspiciosa carreira.

Confira as obras de António





 Sobre o Autor

(António Rodrigues)

Com várias obras publicadas, das quais se destacam "O Islão no Mundo" (Hugin), "Public Information in Arabic Countries" e "Um Certo Oriente" (Prefácio), tem colaborado em diversos livros e projectos escritos nas línguas portuguesa, espanhola e inglesa, tendo igualmente publicado dezenas de artigos em diversas revistas e jornais, consagrando-se a diversas actividades ao nível da pesquisa, estudo e divulgação no âmbito dos estudos árabes e islâmicos, colaborando em grupos de trabalho, monografias, artigos, conferências e seminários, a nível nacional e internacional, relacionados com a temática luso-árabe e árabe-islâmica, na sua vertente histórica, linguística, etnográfica, antropológica, cultural e científica.

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15 comments

  1. adorei a entrevista,muito inteligente ele !
    conheci mais um pouco sobre ele pois nunca tinha ouvido falar,bjokas!
    www.chatofbeauty.blogspot.com

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  2. Oii

    Eu não tinha ouvido falar de nenhum dos livros dele, mas achei muito interessante a visão do autor! Parabéns pela entrevista!

    Beijos, Patty
    Cartas para Ficção

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  3. Uau! Amei a entrevista, mas sevo admiti que não li as últimas 2 perguntas! Agora vou ter que sair do computador! Mas volto depois e mato minha curiosidade!!!
    http://peoples-says.blogspot.com

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  4. Gostei da entrevista ^^, tbm gosto do escritor Paulo Coelho, como ele diz na entrevista são um dos autores do mundo.
    http://blogdaingridzinha.blogspot.com/

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  5. Oii linda*
    obrigada pela visitinha em meu blog ! Volte sempre...
    ja estou seguindoo seu blog ta..
    beijao
    lay
    http://layana-souza.blogspot.com

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  6. Oi Florzinha!!

    Confesso que não sou muito de ler livros, já fui, mais ultimamente ando parada Flor, não conheço os livros desse autor, mais parece ser bons pelo que vi, pois a cultura do oriente e bem estigante.

    Obrigada por sua participação lá no sorteio viu, e lhe desejo boa sorte amadinha. Ah aproveitando vou te contar um segredinho essa semana vou postar mais um sorteio mara, então quero ver você participando hein flor! :)

    Ótima semana anjo!

    Beijinhos e fique com Deus

    www.universoglam.com

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  7. Sobre a entrevista: Cada palavra escrita mostra uma sapiência que nos convida a "devorar" do princípio ao fim sem parar.

    Sobre o autor, acho que esta sua frase diz tudo:

    ( O saber ser humilde quando se escreve, tal qual como se está na vida e se olha para a pessoa do lado.) Perfeito!!!

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  8. adorei a entrevista!

    Beijãão
    larysilvestre.blogspot.com

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  9. Adorei a entrevista e os conteúdos dos livros. Adoro conteúdos relacionados a História. Beijos
    http://meuspreciosospes.blogspot.com/

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  10. Outro escritor que eu não conhecia e tem cara de ser super talentoso, amei a entrevista! xoxo

    http://dezahoffmannmoda.blogspot.com

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  11. uaaaau, amei a entrevista haha. adorei!
    tem novo post lá no meu blog querida *o*

    beijos,
    http://bnascimentooo.net.tc

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  12. Oi.
    Feliz 2012 pra ti!!
    Que bom que gostou do meu blog.
    Apareça sempre que puder.

    Bjss.
    http://temtudopramulheres.blogspot.com/

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  13. Quem me conhece realmente sabe o quanto considero António Rodrigues, sou fascinada pelo mundo do Extremo Oriente, e nada melhor do que livros sobre o assunto né ?
    Adorei o post de paixão mesmo, ele deveria ser muito mais considerado.

    Estou esperando pela sua visita no novo http://posdezesseis.blogspot.com/

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  14. Ótima entrevista! Mil beijos!
    http://pensamentosdeumageminiana.blogspot.com

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  15. Adorei a entrevista.
    http://livrodagarota.blogspot.com.br/

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